quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

"E não sou mulher?"


"Ain't I A Woman?" (em em português: "E não sou mulher?") foi o nome dado a um discurso feito de improviso pela ex-escrava Sojourner Truth, (1797-1883, nascida Isabella em Nova York). Pouco depois de conquistar a liberdade em 1827, tornou-se uma conhecida oradora abolicionista. O discurso foi proferido na Women's Convention em Akron, Ohio, em 1851.

Truth argumentou que enquanto a cultura estadunidense colocava (metaforicamente) as mulheres brancas sobre um pedestal e lhes concediam certos privilégios (principalmente de não exercer atividades remuneradas), esta atitude não era estendida às mulheres negras. O discurso foi feito em resposta a um dos palestrantes do sexo masculino, o qual aparentemente estava na platéia.


Sojourner Truth


Relato em primeira mão e comentário

O discurso foi registrado por Frances Gage, militante feminista e uma das autoras do grande compêndio de materiais sobre a primeira onda feminista, The History of Woman Suffrage. Gage, que presidia o encontro, descreve o evento:


As líderes do movimento estremeceram ao ver uma negra alta e ossuda, num vestido cinza e turbante branco encimado por um boné grosseiro, marchar deliberadamente para dentro da igreja, caminhar com o ar de uma rainha pelo corredor e tomar assento nos degraus do púlpito. Um murmúrio de desaprovação foi ouvido por toda a congregação e as pessoas comentavam, um encontro abolicionista!, direitos da mulher e crioulos!, eu te disse!, vai, neguinha!. Repetidamente, as medrosas e trêmulas vieram até mim e me disseram com seriedade, "não deixe que ela fale, sra. Gage, vai nos arruinar. Todos os jornais do país vão misturar nossa causa com a abolição e crioulos, e seremos completamente estigmatizadas". Minha única resposta foi: "quando a hora chegar, veremos."
No segundo dia, os debates esquentaram. Pregadores metodistas, batistas, episcopais, presbiterianos e universalistas vieram ouvir e discutir as resoluções apresentadas. Um reivindicou direitos e privilégios superiores para os homens, baseado no "intelecto superior"; outro, porque "Cristo era varão; se Deus desejasse a igualdade da mulher, Ele teria dado algum sinal da Sua vontade através do nascimento, vida e morte do Salvador". Outro nos deu uma visão teológica do "pecado de nossa primeira mãe".
Havia poucas mulheres naqueles dias que ousavam "falar numa reunião"; e os augustos professores do povo estavam aparentemente levando vantagem sobre nós, enquanto os garotos nas galerias e os zombeteiros entre os bancos da igreja divertiam-se à larga com o desconforto que imaginavam atingir as "cabeças duras". Algumas das amigas mais sensíveis estavam quase ao ponto de perder a dignidade, e a atmosfera ameaçava tempestade. Quando, lentamente, do seu lugar no canto ergueu-se Sojourner Truth, a qual, até então, mal havia erguido a cabeça. "Não deixe que ela fale!", arquejaram meia dúzia ao meu ouvido. Ela moveu-se lenta e solenemente até a frente, pôs o velho boné no chão e volveu seus grandes e expressivos olhos para mim. Houve um som sibilante de desaprovação acima e abaixo. Levantei-me e anunciei, "Sojourner Truth", e implorei à platéia que fizesse silêncio por alguns instantes.
O tumulto cessou subitamente, e todos os olhares se fixaram nesta figura de quase amazona medindo cerca de 1,80 m de altura, cabeça erguida e olhos que penetravam as alturas como alguém num sonho. À sua primeira palavra, houve um profundo silêncio. Ela falou num tom profundo, o qual, embora não fosse alto, atingiu cada ouvido na congregação, e através da multidão aglomerada nas portas e janelas.

History of Woman Suffrage, 2da. ed., vol.1. Rochester, NY: Charles Mann, 1889. Editado por Elizabeth Cady Stanton, Susan B. Anthony e Matilda Joslyn Gage.


O discurso


Primeira versão registrada

Marcus Robinson, que assistiu à convenção e trabalhou com Truth, registrou a primeira versão do discurso na edição de 21 de junho de 1851 do Anti-Slavery Bugle.

Um dos mais singulares e interessantes discursos da convenção foi feito por Sojourner Truth, uma escrava alforriada. É impossível transcrevê-lo para o papel, ou exprimir qualquer idéia adequada do efeito que produziu sobre a platéia. Somente puderam apreciá-lo os que viram a forma poderosa dela, seu gestual devotado e sincero, e ouviram seu timbre forte e verdadeiro. Ela encaminhou-se para a frente até o tablado e dirigindo-se à presidente, disse com grande simplicidade: "Posso dizer umas poucas palavras?". Recebendo uma resposta afirmativa, ela prosseguiu:

Quero dizer umas poucas palavras sobre este assunto. Sou uma mulher de direitos. Tenho tantos músculos quanto qualquer homem, e posso trabalhar tanto quanto qualquer homem. Tenho arado e ceifado e cortado e aparado, e pode algum homem fazer mais do que isso? Tenho ouvido falar muito sobre igualdade dos sexos. Posso carregar tanto quanto qualquer homem, e posso comer tanto quanto também, se conseguir o que comer. Sou tão forte quanto qualquer homem. Quanto ao intelecto, tudo o que posso dizer é, se uma mulher possui uma medida, e um homem possui duas — por que ela não pode ter a sua medidazinha cheia? Vocês não precisam temer nos dar nossos direitos por medo de que queiramos demais, — porque não poderemos pegar mais do que nossa medida suporta. Os pobres homens parecem estar em total confusão e não sabem o que fazer. Porque, crianças, se têm direitos das mulheres, dêem-nos a elas e irão se sentir melhor. Vocês terão seus próprios direitos e eles não serão um grande problema. Não sei ler, mas sei ouvir. Ouvi a Bíblia e aprendi que Eva levou o homem a pecar. Bom, se a mulher subverteu o mundo, dêem-lhe a chance de colocá-lo na posição certa de novo. A senhora falou sobre Jesus, de como ele nunca desprezou as mulheres, e ela estava certa. Quando Lázaro morreu, Maria e Marta foram até ele com fé e amor e exortaram-no para que erguesse o irmão delas. E Jesus foi e Lázaro levantou-se. E como Jesus veio para o mundo? Através de Deus que o criou e da mulher que o deu à luz. Homem, qual foi o seu papel? Mas as mulheres estão discutindo sob as bênçãos de Deus e uns poucos homens se aproximaram delas. Mas o homem está num espaço apertado, o pobre escravo parte para cima dele, a mulher parte para cima dele, certamente ele está entre um falcão e uma águia.


O discurso registrado por Frances Gage

Frances Gage registrou o discurso em History of Woman Suffrage no que, segundo ela, era o dialeto falado por Sojourner Truth (cuja língua nativa era o holandês, então ainda usado em Nova York). Como o dialeto soa estranho mesmo para um leitor moderno em inglês, faz-se necessária uma versão atualizada:
Bem, crianças, onde há muita confusão deve haver algo de errado. Penso que entre os negros do Sul e as mulheres do Norte, todos falando sobre direitos, os homens brancos vão muito em breve ficar num aperto. Mas sobre o que todos aqui estão falando?
Aquele homem ali diz que as mulheres precisam ser ajudadas a entrar em carruagens, e erguidas para passar sobre valas e ter os melhores lugares em todas as partes. Ninguém nunca me ajudou a entrar em carruagens, a passar por cima de poças de lama ou me deu qualquer bom lugar! E não sou mulher? Olhem pra mim! Olhem pro meu braço! Tenho arado e plantado, e juntado em celeiros, e nenhum homem poderia me liderar! E não sou uma mulher? Posso trabalhar tanto quanto e comer tanto quanto um homem - quando consigo o que comer - e aguentar o chicote também! E não sou uma mulher? Dei à luz treze filhos, e vi a grande maioria ser vendida para a escravidão, e quando eu chorei com minha dor de mãe, ninguém, a não ser Jesus me ouviu! E não sou mulher?
Então eles falam sobre essa coisa na cabeça; como a chamam mesmo? [alguém na platéia sussurra, "intelecto"] É isso, meu bem. O que isso tem a ver com os direitos das mulheres ou dos negros? Se a minha xícara não comporta mais que uma medida, e a sua comporta o dobro, você não vai deixar que a minha meia medidazinha fique completamente cheia?
Depois aquele homenzinho de preto ali disse que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens, porque Cristo não era mulher! De onde o seu Cristo veio? De onde o seu Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não teve nada a ver com Ele.
Se a primeira mulher feita por Deus teve força bastante para virar o mundo de ponta-cabeça sozinha, estas mulheres juntas serão capazes de colocá-lo na posição certa novamente! E agora que elas estão querendo fazê-lo, é melhor que os homens permitam.
Obrigado aos que me ouviram, e agora a velha Sojourner não tem mais nada a dizer.


Palavras finais de Frances Gage

O seguinte relato contemporâneo foi extraído de History of Woman Suffrage de Gage:

Em meio a um bramido de aplausos, ela voltou ao seu canto deixando muitas de nós com os olhos cheios de lágrimas, e os corações repletos de gratidão. Ela havia nos tomado em seus braços fortes e nos carregado em segurança sobre um charco de dificuldades, virando totalmente a maré a nosso favor. Eu nunca antes em minha vida havia visto algo como a influência mágica que subjugou o espírito de desordem daquele dia, e transformou as zombarias e ironias de uma multidão excitada em comentários de respeito e admiração. Centenas afluíram para apertar as mãos dela, e congratular a velha mãe gloriosa, e desejar-lhe sucesso em sua missão de "testemunhar contra a maldade desta gente".

Fonte de pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ain%27t_I_a_Woman%3F



Mulheres na política

Apesar do cargo máximo da República ser ocupado por uma mulher, a participação feminina brasileira nas esferas do poder ainda é baixa. Em um ranking que avalia a penetração política por gêneros em 146 países, preparado pela União Interparlamentar, o Brasil ocupa o modesto 110º lugar, atrás de nações como Togo, Eslovênia e Serra Leoa.

Embora representem 51,7% dos eleitores brasileiros, a participação das mulheres na Câmara dos Deputados é de 9%, número semelhante aos 10% registrados no Senado. São Paulo, a maior cidade do País, possui os mesmos 9% de vereadoras na Câmara Municipal. No Poder Executivo, a situação não é diferente: das 26 capitais, somente duas têm mulheres como prefeitas.

A tímida representação feminina no Poder Legislativo se mantém inalterada mesmo depois da aprovação da Lei Eleitoral 9.100, promulgada em 1995, segundo a qual 20% dos postos deveriam ser ocupados pelas mulheres. Em 1997 é alterada para o mínimo de 30%.

Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu uma reforma na lei, tornando obrigatória 30% a proporção mínima de participação das mulheres, mas os partidos políticos alegam dificuldades em atrair as mulheres para seus quadros. Nas últimas eleições legislativas, a média de candidatas à Câmara dos Deputados foi de 19%; para as assembleias legislativas, 21%.


Para o professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, José Eustáquio Diniz Alves, o fenômeno não decorre da carência de mulheres aptas a concorrer, mas antes do modo como os partidos são organizados: “Eles são controlados por homens, que dão pouco espaço para as mulheres estruturarem suas campanhas”, diz.

A composição partidária brasileira reflete o patriarcalismo da sociedade, na opinião de Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Todo o processo político acaba sendo muito desestimulante para a mulher”, avalia Marlise.
Sem o devido apoio, a proporção de candidatas efetivamente eleitas é baixa. Em 2010, a relação de candidatas à Câmara Federal e às Assembleias Legislativas e aquelas efetivamente eleitas foi de 4,9% - em 1994, a taxa atingiu 17%.

Criada em 2003, a Secretaria de Políticas para as Mulheres reuniu os esforços para ampliar a participação feminina nos cargos públicos no Fórum Nacional de Instâncias de Mulheres de Partidos Políticos, instrumento multipartidário cujo objetivo é fortalecer a inserção da mulher no poder, por meio de cursos, seminários e campanhas institucionais.

Para a ex-presidente do Chile e atual diretora-executiva da ONU Mulheres, Michelle Bachelet, a situação no Brasil exige a criação de políticas transversais no mais alto nível da gestão pública. “Instituições fortes, que promovam o empoderamento das mulheres, são indispensáveis para garantir avanços e impedir retrocessos”, avalia.
Pioneiras

A luta das mulheres pelo espaço na política é antiga. Ainda no período do Império, em 1880, a dentista Isabel de Mattos Dillon evocou na Justiça a Lei Saraiva (que permitia aos detentores de títulos científicos votar) para requerer seu alistamento eleitoral.

Nos anos seguintes, surgiram várias iniciativas isoladas para permitir o voto feminino. Em 1894, Santos, no litoral paulista, promulga o direito das mulheres ao voto. A medida foi derrubada no ano seguinte. Em 1905, três mulheres conseguiram se alistar e votar em Minas Gerais.

Em 1928, o Brasil elege sua primeira prefeita: Alzira Soriano de Souza, na cidade Lages, no Rio Grande do Norte. O voto feminino só se tornou um direito nacional em 1932.

Aos poucos, as mulheres foram conquistando cargos que, até então, eram exclusividade masculina. Em 1933, a média paulista Carlota de Queirós é eleita a primeira deputada federal do País. “Cabe-me a honra, com a minha simples presença aqui, de deixar escrito um capítulo novo para a história do Brasil: o da colaboração feminina para a história do País”, disse em seu primeiro pronunciamento na Câmara em 13 de março de 1934.

A Casa ao lado, o Senado, só elegeu suas primeiras parlamentares em 1990. Júnia Marise (Minas Gerais) e Marluce Pinto (Roraima) foram as primeiras senadoras eleitas do Brasil. Em 1994, Roseana Sarney é a primeira mulher escolhida pelo voto popular para chefiar um estado, o Maranhão.
Em 2011, as brasileiras obtiveram grandes conquistas. A primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, tomou posse. E no Parlamento, foram eleitas as primeiras vice-presidentas da Câmara dos Deputado (Rose de Freitas, do Espírito Santo) e do Senado (Marta Suplicy, de São Paulo).




Artigo publicado pelo site: http://www.brasil.gov.br/secoes/mulher/atuacao-feminina/mulheres-na-politica


Anarco feminismo


Anarco feminismo, também chamado de feminismo libertário, é o movimento de luta pela libertação da mulher com um viés anarquista. Para as anarco feministas, a emancipação feminina só se dará com a destruição do Estado e do sistema de classes, responsáveis pela opressão do gênero feminino. O anarco feminismo é, então, a busca pela transformação da sociedade sob a perspectiva dos conflitos de gênero; é a tentativa de superação do patriarcado sem pretender estabelecer outras formas de domínio em seu lugar.

Trata-se de um caminho para se vivenciar a anarquia para chegar à sociedade libertária.





Não existe uma data precisa para o surgimento do anarco feminismo. Pode-se dizer que a partir do momento que as mulheres anarquistas começaram a participar ativamente do movimento anarquista, o anarco feminismo começou a tomar forma. As libertárias passaram a atuar ao lado dos companheiros ácratas e a discutir, propondo meios de combate à opressão que a mulher sofria na sociedade da época.

Maria Lacerda de Moura, Sônia Oiticica, Luce Fabri, Matilde Magrassi, Emma Goldman, Paula Soares, Áurea Quadrado, são apenas algumas das mulheres anarquistas que atuavam no movimento, seja de maneira individual ou em coletivos. Boa parte de suas produções foram perdidas ou destruídas pelos partidos comunistas e pelos governos totalitários, como os de Getúlio Vargas, que prendeu e perseguiu muitos grupos libertários.





Atualmente, existem poucos grupos e mulheres anarco feministas pelo Brasil e no mundo. Mesmo assim, a vivência daquelas mulheres ainda reflete fortemente em diversos países, como Brasil, México, Bolívia, Espanha, Itália, EUA, entre outros.

O anarco feminismo compreende que a opressão da mulher é resultado de uma sociedade capitalista e patriarcal, e não do gênero masculino. Por isto, propõe uma sociedade anarquista, em que mulheres e homens sejam vistos como seres humanos completos. O homem é também explorado pelo capitalismo e tem sua masculinidade a todo tempo colocada à prova, porém a sua opressão se dá de maneira diferenciada da da mulher. Enquanto as mulheres são oprimidas, discriminadas, violentadas pelo seu sexo.





Embora o anarco feminismo beba diretamente da fonte da política anarquista, ele contesta a atuação dos homens libertários e do próprio movimento anarquista, que não dá a devida visibilidade às questões relacionadas à mulher e muitas vezes vê como redundante o termo anarco feminismo. Por causa disto, foram formados grupos só com mulheres que trouxeram para dentro do movimento estas questões de gênero e da mulher de maneira decisiva. Aqui no Brasil havia o Coletivo Anarco Feminista (CAF) – surgido nos anos 90 na capital paulista, e atualmente o Grito de Revolta das Mulheres Libertárias (GRML), também em São Paulo. Devido a isto, o anarco feminismo tomou mais força. São as mulheres libertárias falando com voz própria. Não há lideranças entre as anarco feministas, sendo sua organização autônoma e horizontal, não havendo hierarquias nem práticas autoritárias nem de valores burgueses. As anarco feministas não buscam mudanças através de instituições estatais, aprovação de leis, pelo voto ou com a entrada de uma mulher no poder. Estas práticas podem fazer alguma diferença, mas são mínimas porque o problema maior, a raiz de todo o patriarcado perpassa as questões de gênero. O importante é que todas as mulheres tenham poder próprio, pois as mudanças de sexo nos cargos de chefia não alteram a situação das coisas. Que elas possam se expressar sem terem de ser tuteladas por organizações não governamentais ou pelo próprio governo. Maria Lacerda de Moura já dizia: “Não será com algumas mulheres no poder que resolveremos o problema das que estão no tanque, nas ruas, na cozinha!”

As anarco feministas acreditam na prática da ação direta. É claro a importância que as anarco feministas têm na transformação do discurso e da prática anarquista. No entanto, esta disposição não pode se restringir a apenas um grupo especifico, tornando assim suas bandeiras sem o longo alcance que merece ter.





A lógica do anarco feminismo é carregada de potencialidades que possibilitam uma boa articulação entre a revolução individual e a necessidade de uma revolução social que garanta a perpetuação destas novas relações.

Em 2007, foi publicado em parceria com a jornalista e anarco feminista Mabel Dias e a Imprensa Marginal de São Paulo um livreto contando a história destas mulheres anarquistas. O trabalho é uma reedição de fanzines que foram editados nos anos de 2002 e 2003 e que agora recebem um novo formato. Um segundo livreto será publicado em breve, desta vez, com as histórias das libertárias contemporâneas.


Artigo publicado pelo site: http://punkanarcho.webnode.com.br/zines/considera%C3%A7%C3%B5es%20sobre%20o%20anarcofeminismo/


Feminismo radical


O feminismo radical se desenvolveu durante a segunda onda feminista, no final dos anos 60 e começo dos anos 70. É uma corrente ideológica dentro do feminismo que afirma ser o sexismo a origem de toda opressão. O feminismo radical se foca na teoria do patriarcado como um sistema de poder que organiza a sociedade em um complexo de relacionamentos baseados na suposição da "inferioridade feminina" e "superioridade masculina" como base para "supremacia masculina", usada para oprimir as mulheres e garantir a dominância dos homens.

As feministas radicais propõem-se a desafiar e derrubar o patriarcado por meio de sua oposição aos papéis de gênero e à opressão masculina das mulheres, e clamam por uma reorganização radical da sociedade. As primeiras feministas radicais, provenientes da segunda onda do feminismo nos anos 60, viram tipicamente o patriarcado como um "fenômeno transistórico , anterior ou mais profundo que outras formas de opressão, "não somente a mais antiga e mais universal forma de dominação, mas a forma primária" e o modelo para todas as outras.

Feministas radicais localizam a causa raiz da opressão das mulheres nas relações patriarcais de gênero, em oposição aos sistemas legais (como no feminismo liberal) ou conflito de classes (como no feminismo socialista e feminismo marxista). Feministas radicais procuram abolir o patriarcado. Elas acreditam que a maneira de lidar com o patriarcado e todos os tipos de opressão consiste em eliminar as causas subjacentes a esses problemas por meio de uma completa revolução.


Fonte de pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo_radical

Movimento feminista


O movimento feminista brasileiro conquistou, nas últimas décadas, a ampliação dos direitos da mulher. As ações do movimento feminista foram decisivas para articular o caminho da igualdade entre os gêneros, que, apesar de todos os avanços, ainda não é plenamente garantida.

Assim, ao entrar na segunda década do século 21, as feministas têm em sua pauta de reivindicações pontos como:

•    Reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais das mulheres;
•    Necessidade do reconhecimento do direito universal à educação, saúde e previdenciária;
•    Defesa dos direitos sexuais e reprodutivos;
•    Reconhecimento do direito das mulheres sobre a gestação, com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção;
•    Descriminalização do aborto como um direito de cidadania e questão de saúde pública.

Além desses temas, um em especial tem ganhado por suas estatísticas: a violência contra a mulher.  A cada dois minutos, cinco mulheres são espancadas no País, de acordo com pesquisa da Fundação Perseu Abramo (Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado), realizada em 25 estados, em 2010. 

No levantamento, constatou-se que 11,5 milhões de mulheres já sofreram tapas e empurrões e 9,3 milhões sofreram ameaças de surra.

No entanto, as agressões diminuíram entre 2001 e 2010. Anteriormente, oito mulheres eram agredidas a cada dois minutos. Um dos motivos para essa diminuição foi a elaboração da Lei Maria da Penha, que garante proteção legal e policial às vitimas de agressão doméstica. Qualquer pessoa pode comunicar a agressão sofrida por uma mulher à polícia, a despeito da vontade da mulher em fazê-lo.

O movimento feminista brasileiro pode contar com os esforços da Secretaria de Políticas das Mulheres, que atua não apenas pela redução da desigualdade dos gêneros, mas também para ajudar na redução da miséria e de pobreza para, assim, garantir a autonomia econômica das brasileiras.

Histórico de lutas e conquistas

A história do movimento feminista possui três grandes momentos. O primeiro foi motivado pelas reivindicações por direitos democráticos como o direito ao voto, divórcio, educação e trabalho no fim do século 19. O segundo, no fim da década de 1960, foi marcado pela liberação sexual (impulsionada pelo aumento dos contraceptivos).  Já o terceiro começou a ser construído no fim dos anos 70, com a luta de caráter sindical.


No Brasil, o movimento tomou forma entre o fim do século 18 e início do 19, quando as mulheres brasileiras começaram a se organizar e conquistar espaço na área da educação e do trabalho. Nísia Floresta (criadora da primeira escola para mulheres), Bertha Lutz e Jerônima Mesquita (ambas ativistas do voto feminino) são as expoentes do período.

As brasileiras obtiveram importantes conquistas nas primeiras décadas do século 19. Em 1907, eclode em São Paulo a greve das costureiras, ponto inicial para o movimento por uma jornada de trabalho de 8 horas.

Em 1917, o serviço público passa a admitir mulheres no quadro de funcionários. Dois anos depois, a Conferência do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho aprova a resolução de salário igual para trabalho igual.

Já a década de 30 foi marcada por avanços no campo político. Em 1932, as mulheres conquistam legalmente o direito ao voto, com o Código Eleitoral. Apesar da importância simbólica dessa conquista, à época, foram determinadas restrições para o exercício desse direito. Foi só com a Constituição de 1946 que o direito pleno ao voto foi concedido.

Mesmo assim, um ano após de conquistado o direito ao voto, em 1934, Carlota Pereira Queiróz torna-se a primeira deputada brasileira. Naquele mesmo ano, a Assembleia Constituinte assegurava o princípio de igualdade entre os sexos, o direito ao voto, a regulamentação do trabalho feminino e a equiparação salarial entre os gêneros.

Com a ditadura do Estado Novo, em 1937, o movimento feminista perde força. Só no fim da década seguinte volta a ganhar intensidade com a criação da Federação das Mulheres do Brasil e a consolidação da presença feminina nos movimentos políticos. Mas logo vem outro período ditatorial, a partir de 1964, e as ações do movimento arrefecem, só retornando na década de 70.

Um dos fatos mais emblemáticos daquela década foi a criação, em 1975 (Ano Internacional da Mulher), do Movimento Feminino pela Anistia. No mesmo ano a ONU, com apoio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), realiza uma semana de debates sobre a condição feminina. Ainda nos anos 70 é aprovada a lei do divórcio, uma antiga reivindicação do movimento.

Nos anos 80, as feministas embarcam na luta contra a violência às mulheres e pelo princípio de que os gêneros são diferentes, mas não desiguais. Em 1985 é criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), subordinada ao Ministério da Justiça, com objetivo de eliminar a discriminação e aumentar a participação feminina nas atividades políticas, econômicas e culturais.

O CNDM foi absorvido pela Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, criada em 2002 e ainda ligada à Pasta da Justiça. No ano seguinte, a secretaria passa a ser vinculada à Presidência da República, com status ministerial, rebatizada de Secretaria de Políticas para as Mulheres.


Artigo publicado pelo site: http://www.brasil.gov.br/secoes/mulher/atuacao-feminina/feminismo-pela-igualdade-dos-direitos

O que é feminismo?


Se existe uma palavra que traz muitas emoções, reações e expressões é: Feminismo. Aqueles que não sabem o que é são as primeiras e primeiros a insultar e promover a sua destruição, estendendo-se a censura e difamação para aqueles a nossa mesma filosofia e ação militante. A ignorância é audaciosa, diz um ditado.

O feminismo é um pensamento científico, explicativo e transformador da sociedade. É uma revolução, talvez a maior revolução dos tempos modernos. Uma estranha revolução na qual não se derramou uma gota de sangue, pelo menos de sangue estrangeiro, no entanto, como bem apontam Gallizo Almeida ” é a revolução que mais mudou coisas na vida diária das pessoas, e acima de tudo, produziu mudanças irreversíveis “.

A revolução feminista é e tem sido a resposta das mulheres ao poder patriarcal, sem esquecer que as mulheres têm promovido outras revoluções desde a era cristã, além de sua própria e, periodicamente, saem delas de mãos vazias. A alegação de que durante séculos tem motivado a luta das mulheres e caracteriza o feminismo é a igualdade. Igualdade também tem direito aos direitos, tem alimentado a teoria, ou melhor, as teorias que inspiraram a revolução feminista e movimento de mulheres em geral. Assim, podemos dizer que o feminismo é a doutrina da igualdade de direitos para as mulheres, com base na teoria da igualdade dos sexos. Para não mencionar que a igualdade está intrinsecamente ligada a outros direitos como a liberdade, por exemplo, porque, tal como expresso no artigo 19 da Constituição, os direitos humanos são indivisíveis, inalienáveis ​​e interdependentes em seu exercício.

O feminismo não é uma luta contra os homens. É uma luta, como foi dito, contra um inimigo: o Patriarcado. Esse inimigo, não é apenas das mulheres, mas de toda a humanidade, coloca o controle da sociedade nas mãos dos homens. Patriarcado é uma cultura, um sistema, uma civilização, um sistema econômico, um sistema político, um sistema legal, um sistema religioso, um sistema científico, e assim por diante. Mas acima de tudo, o patriarcado é um PODER. Um poder que se manifesta em todos os lugares, instituições, pessoas, hábitos, culturas, religiões, ideologias, mesmo dentro da alma de muitas mulheres. Isto é assim porque o patriarcado socializa com seus papéis e hierarquia de gênero tanto homens como mulheres. Por que o patriarcado foi sustentado durante séculos, ainda gozando de boa saúde?. Porque ele sempre teve dois exércitos: um exército de linha de frente os homens, socializados como irmãos (Frater*), que sempre atribuem o poder, acreditam que pertence a eles apenas por ser. E um segundo exército, composto por mulheres, obrigadas a se reproduzir e sustentar materialmente o primeiro , socializadas como inimigas a servir o interesse e o desejo masculino. Ele explica por que, mas hoje não se justifica, a conduta de mulheres que se portam como homens honrados . Me vem à mente obra intitulada O Emílio, de Rousseau, resgata a filosofia do século V antes de Cristo, que reúne as afirmações de Aristóteles e outros autores gregos, considerando que o único propósito ou destino das mulheres é fazer o homem feliz.

O feminismo promove a Sororidade. Sororidade vem do latim Soror** , sororis irmã, e-idad***, relativas a, de qualidade. Se o pacto de fraternidade entre os homenspelo qual se reconhece parceiros e sujeitos políticos e que as mulheres são excluídas, a irmandade é o pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo.


Artigo publicado pela Dra. Elida Aponte Sánchez - Também pode ser visto através do site: http://bdbrasil.org/2011/08/03/o-que-e-feminismo/

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista


A “caça às bruxas é um elemento histórico da Idade Média. Entre os séculos XV e XVI o “teocentrismo” – Deus como o centro de tudo – decai dando lugar ao “antropocentrismo“, onde o ser humano passa a ocupar o centro. Assim, a arte, a ciência e a filosofia desvincularam-se cada vez mais da teologia cristã, conduzindo, com isso a uma instabilidade e descentralização do poder da Igreja. Como uma forma de reconquistar o centro das atenções e o poder perdido, a Igreja Católica instaurou os “Tribunais da Inquisição”, efetivando-se assim a  “caça às bruxas“. Mas quem eram, enfim, estas mulheres que fizeram parte de um capítulo tão horrendo da história da humanidade, e por que o feminismo retoma as bruxas como um dos seus principais símbolos?

A “caça às bruxas” durou mais de quatro séculos e ocorreu, principalmente, na Europa, iniciando-se, de fato,em 1450 e tendo seu fim somente por volta de 1750, com a ascensão do Iluminismo. A “caça às bruxas” admitiu diferentes formas, dependendo das regiões em que ocorreu, porém, não perdeu sua característica principal: uma massiva campanha judicial realizada pela Igreja e pela classe dominante contra as mulheres da população rural (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 10). Essa campanha foi assumida  tanto pela Igreja Católica, como a Protestante e até pelo próprio Estado, tendo um significado religioso, político e sexual. Estima-se que aproximadamente 9 milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas neste período, onde mais de 80% eram mulheres, incluindo crianças e moças que haviam “herdado este mal” (MENSCHIK, 1977: 132).

Ao buscarmos uma definição do termo “bruxa” em dicionários, logo pode-se perceber a direta vinculação com uma figura maléfica, feia e perigosa. Neste sentido, também os livros infanto-juvenis costumam descrever histórias onde existe uma fada boa e linda e uma bruxa má e horrível.

Ao analisarmos o contexto histórico da Idade Média, vemos que bruxas eram as parteiras, as enfermeiras e as assistentes. Conheciam e entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar enfermidades e epidemias nas comunidades em que viviam e, conseqüentemente, eram portadoras de um elevado poder social. Estas mulheres eram, muitas vezes, a única possibilidade de atendimento médico para mulheres e pessoas pobres. Elas foram por um longo período médicas sem título. Aprendiam o ofício umas com as outras e passavam esse conhecimento para suas filhas, vizinhas e amigas.

Segundo afirmam EHERENREICH & ENGLISH (1984, S. 13), as bruxas não surgiram espontaneamente, mas foram fruto de uma campanha de terror realizada pela classe dominante. Poucas dessas mulheres realmente pertenciam à bruxaria, porém, criou-se uma histeria generalizada na população, de forma que muitas das mulheres acusadas passavam a acreditar que eram mesmo bruxas e que possuíam um “pacto com o demônio”.

O estereótipo das bruxas era caracterizado, principalmente, por mulheres de aparência desagradável ou com alguma deficiência física, idosas, mentalmente perturbadas, mas também por mulheres bonitas que haviam ferido o ego de poderosos ou que despertavam desejos em padres celibatários ou homens casados.

Com a ascensão da Igreja Católica, o patriarcado imperou, até mesmo porque Jesus era um homem. Neste contexto, tudo o que a mulher tentava realizar, por conta própria, era visto como uma imoralidade (ALAMBERT, Ano II: 7). A religião pagã e a adoração aos seus deuses foi completamente repreendida, e quem mantivesse tais costumes eram condenados ao sofrimento. Em 1233, o papa Gregório IX instituiu o Tribunal Católico Romano, conhecido como “Inquisição” ou “Tribunal do Santo Ofício”, que tinha o objetivo de terminar com a heresia e com os que não praticavam o catolicismo. Em 1320 a Igreja declarou oficialmente que a bruxaria e a antiga religião dos pagãos representavam uma ameaça ao cristianismo, iniciando-se assim, lentamente, a perseguição aos hereges. 

No contexto da “caça às bruxas” haviam várias acusações contra as mulheres. As vítimas eram acusadas de praticar crimes sexuais contra os homens, tendo firmado um “pacto como demônio”. Também eram culpadas por se organizarem em grupos – geralmente reuniam-se para trocar conhecimentos acerca de ervas medicinais, conversar sobre problemas comuns ou notícias. Outra acusação levantada contra elas, era de que possuíam “poderes mágicos”, os quais provocavam problemas de saúde na população, problemas espirituais e catástrofes naturais (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 15).

Qualquer pessoa podia ser denunciada ao “Tribunal da Inquisição”. Os suspeitos, em sua grande maioria mulheres, eram presos e considerados culpados até provarem sua inocência. Geralmente, não podiam ser mortos antes de confessarem sua ligação com o demônio. Na busca de provas de culpabilidade ou a confissão do crime, eram utilizados procedimentos de tortura como: raspar os pelos de todo o corpo em busca de marcas do diabo, que podiam ser verrugas ou sardas;  perfuração da língua; imersão em água quente; tortura em rodas; perfuração do corpo da vítima com agulhas, na busca de uma parte indolor do corpo, parte esta que teria sido “tocada pelo diabo”; surras violentas; estupros com objetos cortantes; decapitação dos seios. A intenção era torturar as vítimas até que assinassem confissões preparadas pelos inquisidores  Geralmente, quem sustentava sua inocência, acabava sendo queimada viva. Já as que confessavam, tinham uma morte mais misericordiosa: eram estranguladas antes de serem queimadas. Em alguns países, como Alemanha e França, eram usadas madeiras verdes nas fogueiras para prorrogar o sofrimento das vítimas. E, na Itália e Espanha, as bruxas eram sempre queimadas vivas. Os postos de caçadores de bruxas e informantes eram financeiramente muito rentáveis. Estes, eram pagos pelo Tribunal por condenação ocorrida e os bens dos condenados eram todos confiscados.

O fim da “caça às bruxas” ocorreu somente no século XVIII, sendo que a última fogueira foi acesa em 1782, na Suíça. Porém, a Lei da Igreja Católica que fundou os “Tribunais da Inquisição”, permaneceu em vigor até meados do século XX. A “caça às bruxas” foi, sem dúvida, um processo bem organizado, financiado e realizado conjuntamente pela Igreja e o Estado.


O feminismo e o resgate da imagem das bruxas


Diante de tantas mortes de mulheres acusadas por bruxaria durante este período, podemos afirmar que o ocorrido se tratou de um verdadeiro genocídio contra o sexo feminino, com a finalidade de manter o poder da Igreja e punir as mulheres que ousavam manifestar seus conhecimentos médicos, políticos ou religiosos. Existem registros de que, em algumas regiões da Europa a bruxaria era compreendida como uma revolta de camponeses conduzida pelas mulheres (EHRENREICH & ENGLISH, 1984: 12). Nesse contexto político, pode-se citar a camponesa Joana D`arc, que aos 17 anos, em 1429, comandou o exército francês, lutando contra a ocupação inglesa. Esta acabou sendo julgada como feiticeira e herege pela Inquisição e queimada na fogueira antes de completar 20 anos. Diante disso, configurava-se a clara intenção da classe dominante em conter um avanço da atuação destas mulheres e em acabar com seu poder na sociedade, a tal ponto que se utilizava meios de simplesmente exterminá-las.

O feminismo busca resgatar a verdadeira imagem das bruxas em nossa história, analisando não somente os aspectos religiosos, mas também políticos e sociais que envolveram a “caça às bruxas” na Idade Média. No olhar feminista, as bruxas, através de seus conhecimentos medicinais e sua atuação em suas comunidades, exerciam um contra-poder, afrontando o patriarcado e, principalmente, o poder da Igreja. Em verdade, elas nada mais foram do que vítimas do patriarcado (ALAMBERT, Ano II, n° 48: 7). Atualmente, as mulheres ainda continuam sendo discriminadas e duramente criticadas por lutarem pela igualdade de gênero e a divisão do poder social e econômico, que ainda é predominantemente masculino, continuando vítimas do patriarcado. Por isto, as bruxas representam para o movimento feminista não somente resistência, força, coragem, mas também a rebeldia na busca de novos horizontes emancipadores.


Artigo publicado por ROSÂNGELA ANGELIN - Militante feminista e doutoranda em Ciências Jurídicas na Universidade de Osnabrück – Alemanha. Podendo ser visto também através do site: http://www.espacoacademico.com.br/053/53angelin.htm#_ftn2



Mulheres na Ciência


As mulheres contribuíram para a ciência desde os primeiros dias, mas não foram reconhecidas. Historiadores interessados em estudos sobre gênero e ciência trouxeram à luz as contribuições femininas, as barreiras enfrentadas e as estratégias implementadas para conseguir a aceitação do trabalho científico.



Antiguidade

O envolvimento de mulheres no campo da medicina foi registrado em diversas civilizações antigas. Uma egípcia, Merit Ptah (2.700 a.C.), além de Peseshet, era definida numa inscrição como "médica chefe", é o mais antigo registro de de uma mulher na história da ciência. Agamede foi citada por Homero como uma curadora na Grécia Antiga antes da Guerra de Tróia. Agnodice foi a primeira mulher médica a exercer a profissão de maneira reconhecida pela lei na Atenas do século IV a.C.
O estudo da filosofia natural na Grécia Antiga era aberto às mulheres. Exemplos como os de Aglaonice, que previa eclipses lunares; e Theano, matemática e física, pupila e possivelmente também mulher de Pitágoras, da escola de Crotona, na qual estudavam muitas outras mulheres. Temistocléia era filósofa, matemática e alta profetisa de Delfos foi mestra de Pitágoras e o introduziu aos princípios da ética.
Existem muitos registros de mulheres que contribuiriam para a proto-ciência da alquimia em Alexandria por volta do primeiro ou segundo século a.C., onde a tradição gnóstica valoriza as mulheres. A mais conhecida, Maria, a Judia, foi a inventora de equipamentos para a química, como o banho-maria (de onde o nome Maria, em homenagem) e um tipo de alambique ou aparelho de destilação simples.
Hipátia de Alexandria (370-415) era filha de Theon, acadêmico e diretor da Biblioteca de Alexandria. Ela escreveu textos sobre geometria, álgebra, astronomia, e credita-se a ela a invenção do hidrômetro, de um astrolábio e um instrumento para destilar água.



Mulher ensinando geometria. Ilustração de uma tradução medieval dos Elementos de Euclides, 1310)



Europa Medieval

A educação universitária era disponível para algumas mulheres na Idade Média européia. A física Trotula supostamente ocupou uma cadeira na Escola de Salerno no século XI, aonde ministrou aulas a mulheres da nobreza italiana, um seleto grupo por vezes referido como "as senhoras de Salerno". Inúmeros textos que se referem à medicina feminina, em obstetrícia e ginecologia, entre outros tópicos, também são a ela creditados. A Universidade de Bolonha permitia às mulheres assistir aulas desde o começo em 1088; Dorotea Bucca ocupou uma cadeira em medicina no século XV . De uma maneira geral, eram excluídas das universidades.
Conventos medievais foram outro ambiente de educação para mulheres, e algumas dessas comunidades ofereciam oportunidades para que as mulheres contribuíssem para a pesquisa acadêmica. Um exemplo foi a alemã Hildegard de Bingen, cujos inúmeros e prolíficos escritos abrangiam os mais variados assuntos científicos, como medicina, botânica e história natural.



Hildegarda de Bingen



Fonte de pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_na_ci%C3%AAncia


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Mulheres na Filosofia

A história da filosofia demonstra a presença de várias mulheres filósofas. Seus trabalhos não foram reconhecidos e difundidos por questões culturais, mas a filosofia desde as suas origens pertenceu ao gênero humano independente de gênero.

Antiguidade (Séc. XXIII)


EnheduanaFoi o primeiro ser humano de que se tem notícia a assinar suas próprias obras, sendo por isso a primeira pensadora da História. Foi também a primeira sacerdotisa (sábia, filósofa) do templo da deusa lua; nestes templos dirigia várias atividades, comércio, artes; também eram ensinados matemática, ciências e especialmente o movimento das estrelas e dos planetas. Escreveu 42 hinos para a deusa Inana e é por isso uma das principais fontes da mitologia suméria.


Antiguidade(Séc. IX - IV)



LopamudraFoi uma filósofa da Índia, que viveu em cerca de 800 a.C.; a ela deve-se um dos hinos do Rigveda e a disseminação dos mil nomes da Deusa mãe.

TemistocléiaFoi uma filósofa, matemática e uma alta profetisa de Delfos, que viveu no século VI a.C. e foi, segundo o filósofo Aristoxenos a grande mestra de Pitágoras, introduzindo-o aos princípios da ética, Depois de Pitágoras criar o termo filosofia, Temistocléia teria sido a primeira mulher filósofa do Ocidente.


MelissaMelissa foi uma filósofa e matemática pitagórica.


Safo de Lesbos(VII-VI a. C)Poetisa e educadora nascida em Mitilene, na ilha de Lesbos. Rivalizou com o poeta Alceo e, junto com ele, representa a criação da poesia lírica grega, em contraposição à poesia épica (Homero). Da sua obra conservaram-se dez livros.

Aristocleia (Século V a. C.) - Aristocléa (também Aristocleia; grego: Ἀριστόκλεια), (do século V a.C.) foi uma sacerdotisa grega em Delfos na Grécia Antiga. Ela foi citada por muitos antigos escritores como uma tutora do filósofo e matemático Pitágoras (Entre 580 a.C. - 500 a.C.).

Theano (546 a. C. -) - Nascida em 546 a.C., viveu na última parte do século VI a.C. foi uma matemática grega. É também conhecida como filósofa e física. Theano foi aluna de Pitágoras e supõe-se que tenha sido sua mulher. Acredita-se que ela e as duas filhas tenham assumido a escola pitagórica após a morte do marido.



Aspásia de Mileto (470-410 a. C.) -  Nascida    em     Mileto, pertenceu   ao   círculo   da   elite   de Atenas onde conhece Péricles   e   com   ele tem um filho. Como sofista da  época, Aspásia   também  nada  escreveu,   e   os   relatos   de  sua habilidade   como   argumentadora e  educadora, bem como sua  influência  política sobre Péricles encontram-se na obra de Platão.

Diotima de Mantinéia (427- 347 a C) - Personagem    criada por    Platão    é    apresentada    como    sábia   no   diálogo o  Banquete.  Não  se sabe ao certo se existiu, mas acredita-se que sim.  A  ela atribui-se toda a teoria socrático-platônica do amor.


Asioteia de Filos (393 – 270 a C) - Ensinava      física      na Academia   de   Platão   ao   lado   de   outras mulheres que frequentavam a escola.


Hipárquia de Maroneia - Aristocrata,      é     elogiada     por Diógenes  Laertios  pela  cultura  e raciocínio, comparando-a com Platão. Escreveu: “Cartas e Tragédias”.


Maria, a judia, ou Miriam (séc. I d C) - Viveu em Alexandria, seguidora  do  culto de Isis é considerada como a fundadora da alquimia.  Entre os  escritos está o livro de Magia  Prática. Atribui-se  a  ela  a  descoberta  do  ácido  clorídrico  e  é em homenagem  às  suas descobertas com o ponto de ebulição da água o nome de banho-maria.


Hipácia de Alexandria (415 d C) - Cultivou    superiormente as   matemáticas   e   a   filosofia.   Manteve viva a chama do pensamento   helênico   de   raiz ateniense numa Alexandria dilacerada      pelas      lutas     religiosas.     Foi brutalmente assassinada por uma multidão de fanáticos cristãos.


Idade Média(Séc. V - XIV)


Hildegarda de Bingen (1098-1179) - Conhecida como terapeuta e visionária. Vasta obra de ciência natural sobre biologia e botânica, astronomia e medicina. Fundou um monastério em 1165, seus escritos místicos e teológicos filosóficos são de inspiração platônica.

Heloísa de Paráclito (1101-1164) - Francesa, foi abadessa do convento de Paráclito, uma comunidade monástica fundada pelo filósofo Pedro Abelardo, seu professor e amante. A longa correspondência dos dois documenta a paixão e o debate que nutriam ao longo da vida (Correspondências ou Epístolas). Também escreveu um texto chamado “Problemata”.

Akka Mahadevi (1130-1160) - Suas Vachanas são consideradas uma forma de poesia didática e sua maior contribuição para a literatura Kannada Bhakti. A ela foi concedido o título honorífico Akka pela relevância da obra. Sabe-se que foi ativa em favor de causas femininas e do bem-estar das mulheres; participou de grupos de estudo em filosofia do Anubhavamantapa e de ascensão espiritual (Moksha; por ela nomeado de arivu).

Catalina de Siena (1347-1380) - Liderou uma comunidade heterodoxa de homens e mulheres, sendo considerada a última reformadora religiosa do período medieval. Escreveu “Diálogo da Doutrina Divina”.

Cristina de Pizan (1365-1431) - Considerada a primeira autora profissional. Sua obra mais famosa foi escrita em 1405, “A Cidade das Mulheres”. Questiona a autoridade masculina dos grandes pensadores e poetas que contribuíram para a tradição misógina e decide fazer frente às acusações e insultos contra as mulheres.


Idade Moderna(Séc. XV - XVIII)

Teresa de Jesus (de Ávila) (1515-1582) - A partir de 1562 começa a fundar monastérios das carmelitas descalças na Espanha, uma variante feminina da ordem da qual pertencia. Obras: “Caminho da Perfeição”, a autobiografia “Livro de sua Vida”, “Castelo Interior” ou “As Moradas”.

Louise Labé (1524-1566) - Francesa erudita, literata e música. Obras: “Sonetos”, “Debate entre a Loucura e o Amor”. Na dedicatória deste livro escreve uma espécie de manifesto das reivindicações femininas: o direito das mulheres à ciência e outros conhecimentos.

Oliva Sabuco (1525/30) - Médica e filósofa espanhola; foi pioneira em medicina psicossomática, apontando a necessidade de unir filosofia e medicina, corpo, alma, mente e demonstrando que até a cosmologia pode afetar a saúde humana. Escreveu uma obra holística com sete tratados sobre o assunto, publicada em 1587.

Mary Astell (1666-1731)Uma pensadora que unificou suas convicções filosóficas e religiosas em uma visão feminista. Inovou o campo moral e pedagógico de sua época. Obras: “A Serious Proposal to the Ladies for the Advancement of their true and greater Interests” e “By a lover of her Sex”.

Maria Gaetana Agnesi (1718-1799) - Foi     uma     linguista, filósofa   e   matemática italiana. Agnesi é reconhecida como tendo  escrito  o  primeiro  livro que tratou, simultaneamente, do  cálculo  diferencial  e  integral. Escreveu em latim a obra "Propositiones     philosophicae"    (Proposições Filosóficas), publicada em Milão em 1738; mas o que a tornou notável foi o  seu  compêndio  profundo  e  claro  de análise algébrica e infinitesimal   na   obra  "Instituzioni  Analitiche"  (Instituições Analíticas), traduzida para o inglês e para o francês.

Mary Wollstonecraft (1739- 1797) - Escreveu seu primeiro livro em 1787, “Pensamentos sobre a Educação das Filhas”, onde se percebe a influência de Locke e Rousseau. Em 1790 escreve a “Reivindicação dos Direitos dos Homens” e, em 1792, sua obra mais importante, um tratado político-filosófico intitulado “A Reivindicação dos Direitos das Mulheres”.

Olímpia de Gouges (1748-1793) - São  mais  de  quatro  mil páginas   de   escritos   revolucionários,   peças   de    teatro, panfletos, novelas, sátiras, utopias e  filosofia.  Foi presa por questionar  a  escravidão  dos  negros;  tomou  posições  em favor    dos    direitos    da    mulher   (divórcio, maternidade, educação   e   liberdade   religiosa)  e  defendeu oprimidos e humilhados  com tal dedicação será condenada à guilhotina, em 1793.  Das  obras  destacam-se:  “Memórias de Mme. De Valmont”, “Carta ao Povo”, “Os Direitos da Mulher e Cidadã”.

Harriet Taylor (1807 – 1858) - Foi uma filósofa e defensora dos direitos das mulheres. A estreita relação com Stuart Mill torna difícil dizer o quanto cada um assumiu o trabalho que produziram coletivamente, principalmente a obra The Subjection of Women.


Idade Contemporânea (Séc. XIX - XX)

Rosa de Luxemburgo (1871-1919) Publicava, em Paris, o Jornal A Causa Operária, em 1906. Participou sempre à esquerda das atividades do Partido Social Democrata Polonês e do III Congresso da Internacional Socialista. Foi presa diversas vezes. Em 1919 é assassinada pela polícia em uma prisão alemã. Obras: “Acumulação do Capital”, “Contribuição para a explicação do Imperialismo”, “Militarismo, guerra e classe operária”, “A revolução Russa.”



Lou Andreas-Salomé (1861-1937) - Em 1919 escreve seu primeiro ensaio de argumento psicológico, “O Erotismo”. Passou então a freqüentar o debate psicanalítico e encontrou os argumento que necessitava para articular seus maiores interesses: a arte, a religião e a experiência amorosa como pode se verificar em sua obra: “Reflexões sobre o problema do amor”, “Religião e Cultura”, “Jesus, o judeu”, “Meu agradecimento a Freud”.


Edith Stein (1891-1942) - Lecionava   na   Universidade   de Gottinger. E 1915 presta serviço a Cruz Vermelha.  Em 1925 dedica-se a uma intensa atividade, traduzindo  obras de São Tomás de Aquino e Newman e publicando  “Sobre o  Estado e a Fenomenologia de Husserl”. Interessou-se pela  questão feminina no campo filosófico e religioso,   publicando “Ethos” das profissões das mulheres. Morreu em 1942 em Auschwitz numa câmara de gás.

Maria Zambrano (1904-1991) - Em 1936 faz parte de um grupo de intelectuais que com missões pedagógicas, iniciam uma experiência de educação popular. A relação entre poesia e filosofia, o mito e a razão, a paixão e o intelecto, a obra e a ação, o papel dos intelectuais e o sentido da história parecem ser as principais preocupações de Maria Zambrano.

Hannah Arendt (1906-1975) - A partir de “As origens do Totalitarismo”, inicia uma reflexão dos acontecimentos de sua época; pensa de um modo novo a política e critica a tradição filosófica de seu tempo e seus contemporâneos. Obras: “A condição Humana”, “Entre o passado e o futuro”, “Crises da República”, “Eichmann em Jerusalém”, “A banalidade do mal”, “A vida do Espírito. O pensar, o querer e o julgar”


Simone de Beauvoir (1908-1986) - Representante do Existencialismo. Colaboradora da Revista Tempos Modernos. Nas décadas de 50 e 60 viajou pelo mundo debatendo sua produção filosófica, com grupos políticos e feministas. O “Segundo Sexo”, obra sobre a condição feminina, transformou-se em ícone do movimento feminista. Escreveu também: “Por uma moral da ambiguidade”, “A força das coisas” e “Balanço final”, entre outros.
Foi professora mas, seguindo seu impulso político, decidiu fazer parte da classe operária. Seus textos refletem suas experiências e suas intuições, bem como seu percurso pelo marxismo até a religião. Obras: “Reflexões sobre as Causas da liberdade e da opressão social”, “Reflexões sobre a Origem do Hitlerismo”, etc.

Simone Weil (1909-1943) - Ativista radical dos anos 70 no movimento político Black Power- as panteras negras. Debate os conceitos de liberdade e liberação, bem como a reflexão sobre o sexismo e racismo, ao lado da classe e o poder. Seus escritos trazem um pensamento transformador para a reflexão filosófica no século XX.

Susanne Langer (1895-1985) - Susanne Langer (Susanne Katherina Knauth, Nova Iorque, 20 de dezembro de 1895 — Nova Iorque, 17 de julho de 1985) foi uma grande especialista em filosofia da arte, seguidora de Ernst Cassirer. Sua publicação mais conhecida em português é Filosofia em Nova Chave, seus principais escritos enfocam o papel da arte no conhecimento humano. Entre suas principais influências destacam-se também o filósofo e matemático Alfred North Whitehead, o músico Heinrich Schenker, o filósofo da educação Louis Arnaud Reid, o psiquiatra e neurologista alemão Kurt Holdstein. Define a obra de arte como um símbolo presentacional que articula a vida emocional do ser humano.

Ayn Rand (1905-1982) - Ayn Rand foi uma escritora, dramaturga, roteirista e controversa filósofa estado-unidense de origem judaico-russa, mais conhecida por desenvolver um sistema filosófico chamado de Objetivismo. A filosofia e ficção enfatizam noções de individualismo, egoísmo racional, e capitalismo. Os romances preconizam o individualismo filosófico e liberalismo econômico.

Sarah Kofman (1934–1994) - Foi uma filósofa francesa com mais de 20 livros publicados, sobre diferentes assuntos; estudos sobre a mulher na psicanálise freudiana (considerada a mais completa análise sobre a sexualidade feminina em Freud), a trajetória da mulher na filosofia ocidental e estudos sobre Nietzsche.

Julia Kristeva (1941) - É uma filósofa búlgara-francesa. Erudita, é autora vários livros em variadas áreas de conhecimento, como arte, linguística, feminismo e pós-estruturalismo.



Fonte de pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_na_filosofia

A mulher na História


Pré-História e História Antiga


As civilizações antigas (Elam, Creta, Suméria, Egito, Babilônia, Grécia, Roma, entre outras) foram prolixas em cultuar a mulher e a feminilidade na figura de deusas (horas, erínias, moiras, musas), sacerdotisas (Diotima de Mantinea, Temistocléia) sábias, filósofas, matemáticas (Hipátia de Alexandria, Theano, Damo), pitonisas (Pítia), amazonas (ou guerreiras). Este culto insere-se dentro de um contexto social e religioso cujas raízes remontam aos registros pré-históricos do Paleolítico e do Neolítico ou ainda a uma fase informe do mundo, quando surgiu o primeiro sentimento religioso da humanidade, que era o de adoração à Deusa Mãe ou Mãe Terra: a religião se expressava pela adoração à Terra, às águas, à Natureza, aos ciclos e à fertilidade. Inúmeros autores consideram que o longo período, que se estendeu da Pré-história às civilizações pré-helênicas, e que foi caracterizado pela adoração à Deusa mãe, teria sido concomitante a uma estrutura social na qual o elemento feminino era preponderante, isto é, uma matriarcado.
Segundo J. J. Bachofen , a hipótese de clãs matriarcais pode ser confirmada pela descrição da trajetória da economia do período paleolítico (2.6 milhões de anos a 10.000 a.C.), caracterizado por caçador-coletor, isto é, atividade 80% de recolha daquilo que a natureza fornece espontaneamente. Esta atividade precede a revolução neolítica (10.000 a 3.000 a.C.) e a consequente sedentarização, que levou à consolidação das civilizações agrícolas pelas mulheres, do Egito e da Mesopotâmia, entre outras; a atividade belicosa da pecuária ou domesticação, período de consolidação do patriarcado, foi uma evolução posterior das civilizações.

Esta abordagem mítico-religiosa de uma religião matriarcal prevaleceu entre as civilizações antigas e nos respectivos mitos. Descobertas arqueológicas revelam a existência de arte rupestre e de estatuetas de culto ao corpo feminino, à fertilidade e com isso à noção de origem da vida e do mundo. As mais antigas noções de criação se originavam da ideia básica do nascimento, que consistia na única origem possível das coisas e esta condição prévia do caos primordial foi extraída diretamente da teoria arcaica de que o útero cheio de sangue era capaz de criar magicamente a prole. Acreditava-se que a partir do sangue divino do útero e através de um movimento, dança ou ritmo cardíaco, que agitasse este sangue, surgissem os "frutos", a própria maternidade. Essa é uma das razões pelas quais as danças das mulheres primitivas eram repletas em movimentos pélvicos e abdominais, que mais tarde ficaram conhecidos como dança do ventre. Muitas tradições referiram o princípio do coração materno que detém todo o poder da criação. Este coração materno, "uma energia capaz de coagular o caos espumoso" organizou, separou e definiu os elementos que compõem e produzem o cosmos; a esta energia organizadora os gregos deram o nome de Diakosmos, a Determinação da Deusa.



A Estatueta de Vênus, Vênus de Brassempouy, encontrada em Brassempouy.



Religião: da Deusa mãe a Deus

Os egípcios, nos hieróglifos, chamaram este coração de ab ou ib esta palavra também foi usada para chamar de pai o Deus dos hebreus. Segundo alguns estudos, acredita-se que o patriarcalismo consolidado pelos hebreus deveu-se a diversos fatores: constantes deslocamentos territoriais e posterior necessidade de sedentarização , e com isso à divisão entre público e privado, além de organização militar e limites territoriais  a atividade belicosa de pastoreio de gado bovino e caprino, as constantes perseguições religiosas que desencadeavam o nomadismo e a perda de identidade territorial. A despeito da deliberação cultural para instituir uma cultura patriarcal, a etimologia revela que ab são as duas primeiras letras do alfabeto hebraico e grego, respectivamente: a=aleph e alpha ou no hebraico pai; e b=bet e beta ou no hebarico útero ou casa e é uma palavra feminina. A união destas compõe a própria palavra alfabeto ou A Palavra, ou o Verbo, segundo a Bíblia, ou o próprio Deus ou, dentro desta concepção hebraica, pai e mãe.
Segundo a religião egípcia, a parte mais importante da alma era o Ib (jb) ou coração. O Ib, ou coração metafísico, era concebido como uma gota do coração da mãe para a criança durante a concepção. Achados arqueológicos da iconografia egípcia retratam esta concepção com a imagem de uma pessoa que é encaminhada pela deusa Maat após a morte para a pesagem da alma. Assim, dentro de uma concepção egípcia, o ab é o coração da deusa ou mãe e o significado da palavra maat é Verdade.

Origens pagãs do Cristianismo

Diversos autores modernos analisam a estória da criação do "Gênesis" sob uma perspectiva não-cristã a qual seria definir a Bíblia como uma narrativa alegórica sobre a divindade hebraica Yavé suplantando a religião da Deusa mãe, representada pela árvore da vida. Isto é demonstrado na passagem sobre a origem do pecado em que o conhecimento proibido relaciona-se a sexo, sexualidade e reprodução, especialmente o conhecimento de que os homens participam da reprodução e que a estória descreve o processo pelo qual sociedades matriarcais tradicionais foram substituídas por sociedades patriarcais.

Estes autores argumentam que várias religiões do Oriente Próximo representavam a Deusa mãe por uma serpente e outras por uma simbologia de comunhão realizada pelo ato de comer uma fruta de uma árvore que crescesse perto do altar dedicado à Deusa; estes cultos pagãos seriam a fonte histórica da narração bíblica . 


Réia, para os gregos, a mãe de todos os deuses, ladeada por dois leões; a palavra significa terra ou fluxo (referindo-se ao sangue menstrual).



Inúmeros sítios arqueológicos da pré-histórica às civilizações pré-helênicas, tal como registrada no sítio de Çatalhüyük, e a mitologia pagã confirmam esta origem do culto à´Deusa mãe. A estatueta feminina que ficou conhecida como a Cibele da Anatólia, datada de 6.000 a.C., exibe uma Deusa Mãe corpulenta e em aparentemente processo de dar à luz. Sentada num trono e ladeada por duas leoas, a estatueta foi encontrada num compartimento de estocagem de grãos, o qual, segundo arqueólogos, sugere uma maneira de proteger (como um amuleto, ou objeto de cunho religioso) a colheita ou o suprimento de alimentos. As pegadas do culto à Deusa mãe são assim encontradas desde épocas imemoriais até os tempos áureos das civilizações antigas.





Cibele da Anatólia, Divindade no trono e ladeada por duas leoas, do sítio arqueológico de Çatalhöyük.



As mais recentes descobertas de uma religião humana remontam inicialmente ao culto aos mortos (300.000 a.C.), e ao intenso culto da cor vermelha ou ocre associado ao sangue menstrual e ao poder de dar a vida. Na mitologia grega, a chamada mãe de todos os deuses, a deusa Réia (ou Cibele, entre os romanos), também representada pela imagem de uma mulher ladeada por duas leoas, exprime este culto na própria etimologia: réia significa terra ou fluxo. Campbell argumenta que Adão, do hebraico אדם relacionado tanto a adamá ou solo vermelho ou do barro vermelho, quanto a adom ou vermelho, e dam, sangue, foi criado a partir do barro vermelho ou argila. A identidade da religião com a Mãe terra, a fertilidade, a origem da vida e da manutenção da mesma com a mulher, seria, segundo Campbell, retratada também na Bíblia: a santidade da terra, em si, porque ela é o corpo da Deusa. Ao criar, Jeová cria o homem a partir da terra [da Deusa], do barro, e sopra vida no corpo já formado. Ele próprio não está ali, presente, nessa forma. Mas a Deusa está ali dentro, assim como continua aqui fora. O corpo de cada um é feito do corpo dela. Nessas mitologias dá se o reconhecimento dessa espécie de identidade universal.
Segundo Walter Burkert, um dos mais respeitados arqueólogos da Antiguidade: As deusas do politeísmo grego, tão diferentes e complementares, são ainda assim consistentemente similares numa etapa inicial, com uma ou outra simplesmente convertendo-se em dominante em um santuário ou cidade. Cada uma é a Grande Deusa presidindo sobre uma sociedade masculina, cada uma é representada em seu aspecto de Potnia Theron ou 'Senhora dos Animais', incluindo Hera e Deméter. Ou ainda: Em particular, parece que uma antiga deusa grega, especialmente 'qua' 'Senhora dos Animais' foi individualizada na Grécia sob várias formas, como Hera, Ártemis, Afrodite, Deméter, e Atena; e acrescenta: A idéia de uma Senhora dos Animais é amplamente disseminada na Grécia e é muito possível que tenha origens no Paleolítico; na religião oficial grega isso sobrevive no minimo para além do folclórico (Burkert 1985, p. 154, 172).

Do matriarcado ao patriarcado

A mitologia grega apresenta Apolo matando a sacerdotisa Píton, e dividindo seu corpo em dois, como uma ação necessária para se tornar dono do oráculo de Delfos. Na mitologia babilônica a morte da deusa Tiamat pelo deus Marduk, que divide seu corpo em dois, é considerada um grande exemplo de como correu a mudança de poder do matriarcado ao patriarcado: "Tiamat, a Deusa Serpente do Caos e das Trevas, é combatida por Marduk, deus da Justiça e da Luz. Isto indica a mudança do matriarcado para o patriarcado que obviamente ocorreu".

A mulher e a família em Roma

A civilização romana prezava o casamento e a família como uma das instituições centrais da vida social e em torno dela foram estabelecidas as três virtudes romanas: a gravitas, que era o sentido de responsabilidade; a pietas, que configurava a obediência à autoridade; e a simplicitas, que impedia que os romanos fossem guiados pela emoção, mantendo sempre a razão. A religião e o culto aos deuses era o lastro desta instituição, cujo poder, "de vida e morte", era exercido exclusivamente pelo pai sobre os filhos, os escravos e (em alguns casos) sobre a mulher. Este poder ou pater famílias tem origem no patriarcado hebreu que pela primeira vez na história denominou de pai ou Deus à Deusa Mãe e com isso centralizou o culto e a religião na figura masculina. Os valores cultivados na família romana levaram à valorização da mulher que a despeito de obedecer o (pater) marido, era vista como um alicerce fundamental e o trabalho doméstico como uma virtude. Mais tarde, no século I a.C., a flexibilização das leis garantiu maior liberdade à mulher e maior participação na vida pública.

Idade Média

Durante a Idade Média as mulheres tinham acesso a grande parte das profissões, assim como o direito à propriedade. Também era comum assumirem a chefia da família quando se tornavam viúvas. Há também registros de mulheres que estudaram nas universidades da época, porém em número muito inferior aos homens. Mulheres como Hilda de Whitby, que no século VII fundou sete mosteiros e conventos, incluindo a Abadia de Whitby; a religiosa alemã Rosvita de Gandersheim, autora de dezenas de peças de teatro; e similarmente, também na Alemanha, a prolífica religiosa Hildegarda de Bingen (ou Hildegard von Bingen, na língua alemã); Ana Comnena fundou em 1083 uma escola de medicina onde lecionou por vários anos; a rainha Leonor, Duquesa da Aquitânia, exerceu relevante papel político na Inglaterra e fundou instituições religiosas e educadoras. No mundo Islâmico, entre os séculos VIII e IX conhecem a glória: religiosas, eruditas, teólogas, poetisas e juristas, rainhas.

Estátua da deusa egípcia Ísis amamentando Hórus (Museu do Louvre); a imagem inspirou as de Nossa Senhora com o menino Jesus, já presentes na cristandade medieval. 



Ícone bizantino de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; a civilização bizantina venerava Maria.


Política

A mulher medieval trabalhou e estudou, fundou conventos e mosteiros, lecionou e também governou. Recebeu uma educação moral, prática (técnica) e intelectual, que lhe permitiu desempenhar um papel social de colaboradora do marido, seja na agricultura, no comércio ou na administração de um feudo. Um governo que se estendeu do âmbito privado ao público: quando morria o marido era ela quem assumia a administração do negócio. Como governantes, Branca de Castela, Anne de Beaujeu, Matilde II de Bolonha, que reina na Toscana e na Emília durante meio século, institui-se protetora da Santa Sé e combateu Henrique IV, obrigando-o a ajoelhar-se diante de Gregório VII. Em todos os grandes feudos, num momento ou outro, as mulheres reinaram: entre 1160 e 1261 sete mulheres se sucederam no condado de Boulogne. Ícone medieval, Joana D´Arc, jovem chefe guerreira, conquista oito cidades em três meses e apesar de ferida continua a combater.

Literatura

A escritora francesa Christine de Pizan (1364 - 1430), autora do livro A Cidade das Mulheres defende na obra que há igualdade por natureza entre os sexos, pode ser considerada uma das primeiras feministas por apresentar um discurso a favor da igualdade entre os sexos, defendendo, por exemplo, uma educação idêntica a meninas e meninos.



Fonte de pesquisa: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mulheres_na_ci%C3%AAncia