Algumas mulheres do Blues não só ajudaram a construir a história do gênero como também mudaram os rumos da indústria fonográfica que ainda engatinhava e não apostava tanto em música para as camadas mais humildes da sociedade. As gravadoras ganharam um bom dinheiro com os "race records" (discos direcionados para a população negra) e com isso, iniciaram algo muito comum no mundo da música: as turnês de divulgação do novo disco. Antes do primeiro Blues ser gravado (Crazy Blues na voz de Mamie Smith), as artistas já eram conhecidas em algumas cidades por fazerem parte dos Minstrels Shows (apresentações de música, dança e teatro que circulavam pelas cidades e improvisavam o espaço como um circo) desde a infância ou adolescência, onde cantavam, dançavam e até interpretavam personagens típicos da cultura negra. Com a gravação de “Crazy Blues” os Minstrels Shows diminuíam em troca de apresentações para divulgação do disco comercializado, rendendo até mais dinheiro e popularidade para as cantoras. Mamie Smith (1883-1946) que realizou a gravação do primeiro clássico, chegou a ganhar 2 mil dólares em uma apresentação (valor muito alto para a época), mas morreu pobre e foi enterrada como indigente. Vinte anos depois fãs e músicos arrecadaram dinheiro para colocar uma lápide no seu túmulo.
Mamie Smith
Clara Smith (1894-1935) era ousada nos shows, fazendo provocações aos homens e mulheres presentes, gravou mais de 100 músicas e infelizmente não tem até hoje o reconhecimento merecido. Outra figura importante desse período foi Ida Cox (1886-1967). Cox ao contrário de todas suas contemporâneas, teve uma carreira mais duradoura apesar da crise de 1929 que devastou financeiramente os EUA, chegando até a se apresentar em 1939 no famoso espetáculo "Spirituals To Swing". Deu uma pausa na carreira em meados da década de 1940, retomando de forma modesta a sua carreira nos anos 50, vindo a falecer na década seguinte.
Clara Smith
Ida Cox
“Ma” Rainey (1886-1939) foi outra cantora que se iniciou nos Minstrels Shows e se tornou uma grande artista nos discos do selo Paramount. Soube administrar o dinheiro que ganhou comprando dois teatros, que a sustentava nos períodos em que não gravava ou se apresentava.
Ma Rainey
Victoria Spivey (1906-1976), também gravou muitos clássicos e foi uma grande aposta das gravadoras. Com a crise de 1929, Spivey se voltou a carreira cinematográfica. Abandonou o cinema para se dedicar a religião e com o “ressurgimento” do Blues nos anos 60, voltou aos palcos e lançou seu próprio selo, onde gravou artistas que estavam esquecidos. Uma dessas artistas era Sippie Wallace (1898-1986), uma texana de extrema importância no cenário do Blues, que havia gravado com King Oliver, Louis Armstrong e outros músicos famosos e registrou sua obra de várias formas: no típico Blues com piano, ou com uma pequena banda, bandas de Jazz e mesmo Jug bands. Nos anos 60 realizou ótimas gravações ao lado do lendário pianista de Chicago, Otis Spann. Em 1983, aos 85 anos, gravou um novo álbum e ganhou um Grammy, vindo a falecer 3 anos mais tarde.
Victoria Spivey
Sippie Wallace
Com a mesma vitalidade de Wallace podemos citar Alberta Hunter (1895-1984). Alberta manteve sua carreira ativa até a morte de sua mãe, onde abandonou os palcos para seguir carreira de enfermeira. Quase vinte anos depois, em 1977, Alberta resolve brindar novamente o mundo com seu talento. Gravou discos excelentes e realizou apresentações lendárias com quase 90 anos de idade. Passou pelo Brasil pouco antes de morrer em 1984. Ela também tem papel importante na história das mulheres do Blues por ser a compositora de “Downhearted Blues” que não casou grande impacto até ser gravado por Bessie Smith em 1923. O disco vendeu muito e colocou Bessie no mais alto pedestal que uma cantora de Blues poderia atingir. Por isso, a próxima parte dessa história será especial para ela.
Alberta Hunter
Artigo publicado pelo site: http://bluesmasters.blogspot.com.br/2006/10/dont-mess-with-me-man-as-mulheres-no.html
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