Rosalind Franklin: "mãe do DNA", pioneira molecular comemoraria hoje se fosse viva, o seu 93° aniversário. Biofísica é considerada uma das mulheres mais injustiçadas da ciência. Nada melhor do que homenagear uma das nossas revolucionárias, falando um pouco sobre a sua história.
Anthony Hope, conceituado escritor
inglês do fim do século XIX, disse certa vez que “poderia escrever um
livro sobre a injustiça dos justos”. Injustiça científica foi o que
sofreu a jovem biofísica inglesa Rosalind Franklin. Nascida de uma
família judia de classe média alta, Rosalind era a filha caçula de um
pai extremamente protetor que a imaginou apenas casada e com filho, não
tendo, portanto, nenhuma aspiração profissional.
Rosalind Franklin
Porém,
desde criança, Franklin mostrou grande aptidão para a ciência e, aos 15
anos, decidiu que queria ser cientista. Em 1941, graduou-se em
Físico-Química no renomado Newnham College, em Cambridge, onde trabalhou
com William Lawrence Bragg, que usava a difração por raios x para
revelar a estrutura de cristais.
Franklin escolheu analisar
estrutura física de materiais carbonizados utilizando raios x. Em 1947,
começa a trabalhar no Laboratório Central dos Serviços Químicos em
Paris, onde consolida a sua reputação internacional em cristalografia.
De volta à Inglaterra, em 1951, assume um posto no laboratório de
biofísica do britânico Maurice Wilkins.
Rosalind Franklin e Maurice Wilkins
No início dos anos
1950, havia três equipes liderando a corrida em busca da estrutura do
DNA. O grupo americano, liderado pelo bioquímico Linnus Pauling do
Instituto de Tecnologia da Califórnia (Cal Tech) e dois grupos ingleses,
um da Universidade de Cambridge, liderado por Francis Crick e James
Watson, e outro do King’s College de Londres, encabeçado por Maurice
Wilkins – ou seja, o mesmo laboratório em que Rosalind foi trabalhar.
Felizmente
para Franklin, os seus resultados foram rápidos e muito bons. Em 1952,
ela conseguiu, por meio de raio x, excelentes imagens da molécula de
DNA. Em uma delas, a que ficou conhecida como “Fotografia 51”, via-se a
molécula de DNA com excelente resolução. Um aluno de doutoramento de
Franklin, Raymond Gosling, que tentava concluir sua tese sem a ajuda da
sua orientadora, não conseguiu interpretar a fotografia 51 e a mostrou,
sem que Rosalind soubesse, a Wilkins, que também compartilhou a imagem,
novamente sem a anuência de Rosalind, com Crick e Watson, colegas de
Cambridge.
Rosalind Franklin
Coube a Watson e Crick terem o “insight” que
Rosalind não teve e, como conseqüência, publicaram na edição da revista
“Nature” de 1953 uma proposta sobre a estrutura da molécula de DNA.
Wilkins escreveu um comentário no artigo e o nome de Rosalind Franklin
não foi nem citado.
Durante o período em que passou no King’s
College de Londres, Rosalind sofreu preconceitos tanto por ser judia
como por ser cientista, em uma época em que a participação feminina na
ciência era pequena. Com o ambiente no King’s insuportável e as
diferenças entre Franklin e Wilkins aumentando a cada dia, após dois
anos, Franklin decide ir embora. Ela viria a morrer em 1958, vítima de
câncer no ovário, aos 37 anos, causado pela radiação a que se sujeitou
durante os estudos pioneiros sobre um vírus da planta do tabaco.
Rosalind Franklin
A
Academia Sueca de Ciências não confere prêmios postumamente. E Rosalind
já havia falecido quando Watson, Crick e Wilkins foram agraciados com o
Prêmio Nobel de Medicina em 1962. Porém, em momento nenhum, o trabalho
de Rosalind foi reconhecido. Cartas trocadas entre Watson, Crick e
Wilkins mostram que eles tinham consciência de que não conseguiriam sem
ela. Dias após a publicação na revista “Nature”, Wilkins escreve para
Crick: “E pensar que Rosie teve todas aquelas imagens em 3D por nove
meses e não viu uma hélice. Cristo.” Alguns historiadores da ciência
defendem que ela foi cautelosa e evitou conclusões precipitadas a
respeito dos seus resultados. Outros afirmam que ela não ousou o
suficiente para chegar à estrutura atualmente aceita.
Rosalind
Franklin ficou para a história como a “Dama Negra do DNA”, como uma
cientista injustiçada por décadas e que somente nos últimos anos teve o
seu trabalho reconhecido. E hoje é vista não apenas como uma grande
cientista, mas também como um ícone feminista, por ousar quebrar todos
os paradigmas conservadores e machistas que existiam na sua época.
http://www.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2012/02/04/noticiasjornalcienciaesaude,2777785/rosalind-franklin-a-dama-negra-do-dna.shtml